A casa que era um sonho é real. Quando adultos, ao chegarmos junto das coisas da infância, estas ficam mais pequenas. Acontece com as casas, os sítios e até com as pessoas.
Na casa falta o pinheiro que era imponente e parecia tomar a fachada toda. A cor pastel adoça a casa imaginada, que era menos doce na memória da infância. O sótão mais mágico continua lá. E a luz daquela rua, tal como o jardim vizinho, falam de Outono como se fosse agora.
turista em Lisboa
três anos depois vivi e trabalhei nesta cidade e vim-me embora com um gosto mais amargo, e a sensação que não a conheci realmente (como queria).
espero voltar a encontrá-la brevemente para fazermos as pazes. não gosto de estar chateada com as cidades. até porque nenhuma das vezes a culpa é delas, mas sempre das pessoas que nos fazem lembrar.
rosas, depois da tempestade
depois de uma viagem turbulenta sobre o mar do Norte, chegamos à paz nórdica dos têxteis escandinavos, nas suas cores exuberantes mas pacificadoras. @ Röhsska Museum, Gõteborg
Tenho passado o final do verão em (longas) experiências com estas lãs de cores deliciosas, e agora nascem-me gorros quentes das mãos todas as semanas.
A tempo do frio vão estar à venda no Etsy, com muito humor e as lãs mais quentes, a querer fazer do Inverno uma estação doce.
A trabalhar num projeto especial, a duas, sobre mantas, gatos e as coisas do lar. Inspirada numa personagem e numa época, a Mariamélia quer reunir um conjunto de objetos especiais, únicos, que não alimentam apenas a nostalgia da infância, mas trazem na memória um sabor especial, que julgávamos perdido. Em mantas de infinitos quadrados de crochet, ou capas para almofada com desenhos que lembram os padrões gráficos dos anos 60 e 70, à presença das andorinhas na casa portuguesa (de uma simbologia quase mágica).
Convidamos também ilustradores a imaginarem esta personagem bucólica, que recorda, à janela, as memórias da infância, rodeada dos objetos de uma vida.
Em breve, aqui, vai-se estrear a Mariamélia.
Esta série é mesmo uma coisa a sério. Pode não ser o melhor possível, mas é a melhor ficção possível agora em Portugal. É tão (mas tão) importante ficcionar um passado recente que só quando ele for muito longínquo é que o vamos perceber. Ficcionar a história é a única forma de a levar a sério, e de ela servir realmente para melhorar (e enriquecer) o presente. Com rock é ainda melhor.
Mas a revolução, pura energia e mera felicidade, ainda está em nós.
Catarina Portas, Crónica no Público, 25 de Abril de 2009
Andei muito tempo a pensar em comércio. Mesmo antes de pensar sobre ele, olhava-o curiosa, nos seus grandes letreiros, nos balcões de madeira, nas embalagens de papel, nas mãos antigas e despachadas dos comerciantes da minha terra. Depois percebi que era uma coisa da “naturalidade”: o Porto é uma cidade burguesa, o burgo dos comerciantes, uma cidade de trocas comerciais desde tempos longínquos, um porto portanto. E apesar de nunca ter estado atrás de um balcão, tirado cafés ou atendido fregueses, havia um fascínio natural por balcões e cafés; por estantes de mercearias e embalagens; por ruas de montras. (Há muitos anos, numa breve mas muito completa viagem por Inglaterra — de Londres ao ponto mais norte da Escócia — o que mais me aliciou a curiosidade e os olhos foram as lojas, as infinitas lojas de chá, de produtos artesanais, de livros, de brinquedos.)
Feminism means being accepted for who you are.
I wanted to be a wife and a mother.
I never gave anything up for being a mother or a wife.
It was what I wanted.