As pessoas emocionam-se quando ouvem o hino ou (…) quando alguém ganha, porque é um país pequenininho, emociona sempre. Nós somos muito poucos, (…) e emociona quando um país tão pequenino como nós, bastante mais pobre do que os rivais, consegue coisas, claro que é emocionante. (…) E como país pequenino que conseguiu coisas grandes, Portugal safou-se bastante bem na vida — levou o caril para a Índia, introduziu o picante...
Miguel Esteves Cardoso
Os estrangeiros estão-me a chamar à realidade, por isso são úteis… toda a família portuguesa havia de ter um estrangeiro em casa permanente para dizer isso: "Vocês são sujos." "Sujos?!" E depois começam a pensar na sujidade: dos franceses, dos ingleses, daqueles que admiramos.
Nós damos imensa importância ao que dizem os estrangeiros, porque nós no fundo temos medo que seja verdade. Nunca temos a ideia do estrangeiro ser um inglês que só conhece a Inglaterra, ou um francês que só conhece a França, o que é verdade, ou um Americano que só conhece os Estados Unidos. A gente tem ideia do estrangeiro que conhece o mundo todo. O estrangeiro nunca é de um país como nós, é sempre superior.
Miguel Esteves Cardoso
Como a gente aceita a feijoada, temos de aceitar este país. Este país é um pacote, é tal e qual como é, bom ou mau é o país que nos calhou… aprender a tirar partido daquilo que já temos, daquilo que já há. Não é aquilo que poderíamos ter se houvésse meios ou se eu tivésse mais cinquenta euros…Há isto: há estes tremoços... não sei que mais não sei quê, e com isso, aceitar que é isso o que é nosso e, com dignidade, aproveitar isso, calmamente. (…) e as críticas serem muito modestas (…) as nossas críticas sociais e políticas deviam ser modestíssimas.
Miguel Esteves Cardoso
Um clima, um céu… é racional ter saudades de um sítio tão bonito. Um país que não exige nada. Portugal é afável, não é difícil. Não tem dificuldade, não é preciso resolver nada.
Miguel Esteves Cardoso
embalagem antiga da Casa Ramos Rua de Sá da Bandeira, 347
No caso de Portugal, é muito fácil de vender Portugal… é um país encantador. Tentar forçar a "coisa" portuguesa é exactamente o errado, eu acho que só se percebe o encanto de Portugal conhecendo o Mundo.
Miguel Esteves Cardoso
Mas eu recuso-me a sentir culpa… porquê que eu hei-de me sentir culpado de gostar daquilo que vejo, de gostar de ver os portugueses e ser português e de estar aqui? Porquê?
"Infelizmente, enquanto noutros países tais tabuletas — (...) de madeira e metal — são religiosamente conservadas e em muitos centros históricos têm ressurgido, entre nós, certo modernismo culturalmente troglodita tem-nas espatifado. Parece que plástico de cores berrantes é que é bom, ainda que desfeie ruas antigas e agrida a identidade do burgo. Claro que, além do mau gosto de quem substitui velhas e belas tabuletas por mamarrachos, a culpa é de quem deixa agredir os nossos olhos e corromper o espírito dos lugares.Vale a pena chamar a atenção dos comerciantes para o encanto de tais símbolos (e, até, incentivá-los para os manterem). (...) Mas será assim tão difícil de entender que o carácter e o aspecto dos interiores e exteriores de muitas lojas constituem, sem sombra para dúvidas, dos melhores exemplos de arte, cultura e património digno do carácter da cidade? Será difícil de entender que a destruição dos símbolos e frontarias de muitos estabelecimentos é afronta à imagem urbana do burgo? Quem acode às lojas antigas e às suas tabuletas?"
Helder Pacheco (1997). Porto: Sítios, Lembranças, Emoções